VOLTAR

A 9ª Sinfonia - Coral - de Ludwig von Beethoven - 200 anos de vida

Na Alemanha, o século XVIII viu o nascer e viver de grandes homens

A 9ª Sinfonia - Coral - de Ludwig von Beethoven - 200 anos de vida

Na Alemanha, o século XVIII viu o nascer e viver de grandes homens: os filósofos Kant, Fichte, Hegel, Schelling e os poetas Schiller e Hölderling. Todos de profunda humanidade e cultura.

E na música, o gênio Beethoven[1].

Este fenômeno: luminares, ao mesmo tempo e no mesmo lugar, nascerem, se encontrarem, estudarem, conviverem nos mesmos liceus e universidades é raro, verdadeiro milagre. E, deste convívio, desta amizade, surgem teorias e obras eternas, resultado do profundo e árduo trabalho, da tradição e da investigação, do olhar sobre o presente e sobre o horizonte do devir.

Friedrich von Schiller[2], escreveu o belíssimo poema “Ode an die Frende”, “Ode à Alegria” em 1785. Na obra, penetra os mistérios da alma e a ilumina com os raios da vida, encontrando o júbilo e a leveza das asas da alegria. 

Exalta a alegria, filha de Eliseu, o Divino.

Exalta sua leveza e a fraternidade. 

Beethoven encantou-se com o poema. Identificou-se com a expressão de seu humanismo que ele próprio experimentava.

 

Freude, schöner Götterfunken,

Tochter aus Elysium,

wir betreten feuertrunken,

Himmlische, dein Heiligtum!

Deine Zauber binden wieder,

was die Mode streng geteilt:

alle Menschen werden Brüder,

wo dein sanfter Flügel weilt.

Wem der grosse Wurf gelungen,

eines Freundes Freund zu sein,

wer ein holdes Weib errungen,

mische seinen Jubel ein!

Ja, wer auch nur eine Seele

sein nennt auf dem Erdenrund!

Und wer's nie gekonnt, der stehle

weinend sich aus diesem Bund!

Freude trinken alle Wesen

an den Brüsten der Natur,

alle Guten, alle Bösen

folgen ihrer Rosenspur.

Küsse gab sie uns und Reben,

einen Freund, geprüft im Tod;

Wollust ward dem Wurm gegeben,

und der Cherub steht vor Gott. 

Alegria, formosa centelha divina,

Filha de Elysium,

Ébrios de fogo, entramos em teu santuário celeste!

 

Tua magia volta a unir o que o costume rigorosamente dividiu.

Todos os homens se irmanam, ali onde repousam tuas doces asas.

 

Quem já conseguiu o maior tesouro de ser o amigo de um amigo, quem já conquistou uma mulher amada, rejubile-se conosco!

Sim, mesmo aquele que conquistou apenas uma alma, uma única em todo o mundo.

Mas aquele que não conseguiu isso, que fique chorando fora desta irmandade!

 

Todos os seres bebem da mesma água no seio da Natureza.

Todos os bons, todos os maus, seguem seus caminhos de rosas.

A alegria nos deu beijos, vinho e um amigo leal até a morte.

Deu força para a vida aos mais humildes –e ao querubim, a contemplação diante de Deus!

 

A Ode é uma visão idealista dos seres humanos como irmandade.

Beethoven quis torná-la música, música cantada por vozes humanas. Integrá-la numa Sinfonia, onde conversaria com os instrumentos da orquestra. Onde se intercalariam e se sobreporiam a Orquestra e o Canto dos homens num fenômeno de melodias, altura de sons e timbres diversos, exaltado, grandioso, contagioso.

E, assim, surgiu a 9ª Sinfonia, em ré menor, opus 125, a CORAL, que incorpora parte do poema de Schiller no último movimento, cantado por solistas e magnífico Coro.

A composição da Sinfonia levou 6 anos, de 1818 a 1824, mas as tentativas de transformar o poema em música cantada pelo ser humano, para ser integrada à Sinfonia, começou em 1793, quando Beethoven o conheceu. E, neste passar de anos Beethoven conseguiu a integração perfeita entre a voz humana e os instrumentos musicais criados pelos homens. Uma apoteose que atinge o Divino. 

A música sinfônica iniciada nos séculos XVI e XVII atinge o ápice de sua evolução nos séculos XVIII e XIX. Até o Renascimento, a voz humana era a suma expressão da música. 

Os instrumentos eram apenas acompanhamento da voz.[3]   Mas no contexto da evolução musical suas qualidades crescem e aparecem as primeiras obras de peças escritas para conjuntos instrumentais que as tocavam, houvesse ou não um instrumento solista, dialogando com o conjunto orquestral. 

Surgem as Sinfonias, com formas clássicas, dando riqueza às peças com sensibilidade e grandiosidade. 

Em sua Nona Sinfonia, Beethoven realiza uma inovação transcendental. Traz de volta a voz humana, em coral magnífico casando-o com a coleção de instrumentos integrados em orquestra.                  

A linguagem musical, compreensiva da voz humana se sobrepõe. A alegria – expressão Divina se espraia e contagia os presentes e une toda a humanidade. 

Esta obra reúne os instrumentos de vários tons, timbres, e a voz humana, suas alturas: soprano, contralto, tenor e baixo. A grandiosidade da força dos instrumentos e a qualidade e densidade do Coral de vozes humanas conseguiram a expressão genial da composição da Sinfonia Coral de Beethoven. 

Neste ano de 2024, comemoram-se 200 anos de vida da 9ª Sinfonia. 

A beleza, a grandiosidade da obra, a composição, o equilíbrio dos instrumentos musicais e das vozes humanas tornaram a Sinfonia ÚNICA nesse nosso mundo e uma obra prima incomparável.   

 

[1] Ludwig von Beethoven nasceu em Bonn na Alemanha de família flamenga em 17 de dezembro de 1770, filho de cantor da Corte Real.

[2] Friedrich von Schiller nasceu em 10 de novembro de 1759 em Marbach am Neckar – Württemberg.

[3] João Maurício Galindo e Romain Roland, in “Beethoven – as muitas faces de um gênio”, Editora Contexto, 2019, pág. 24, 25 e 26.

Este conteúdo é protegido por direitos autorais. A reprodução, total ou parcial, é permitida desde que seja citada a fonte e atribuída a devida autoria. O uso sem a devida referência constitui violação de direitos autorais.

Os dados pessoais acima informados são utilizados exclusivamente para permitir as trocas de mensagens entre você e a Autora, Dra. Angela da Motta Pacheco, em cumprimento a todos os princípios, direitos e obrigações da LGPD – Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº. 13.709/2018).
© 2024 O Caminhar da Humanidade. Todos os direitos reservados.

Nos preocupamos com você e sua privacidade

O nosso site usa cookies e outras tecnologias para personalizar a sua experiência e compreender como você e os outros visitantes usam o nosso site. Ao navegar pelo site, coletaremos tais informações para utilizá-las com estas finalidades. Caso não aceite, não faremos este rastreio, mas ainda usaremos os cookies necessários para o correto funcionamento do site.
Aceito